Já pensaste que aquele copo de água que acabaste de beber é, literalmente, o que te mantém vivo? Pois bem, não estamos a exagerar!
Apesar de a água não ser um nutriente, não existiria vida sem ela. O ser humano pode sobreviver durante algumas semanas sem alimentos, mas sem água pereceria em poucos dias.
Quando 70% de ti é água
Cerca de 70% do peso do corpo de um adulto são constituídos por água. Esta tem que ser continuamente reposta, pois só através da respiração perdem-se mais ou menos 0,3L de água por dia. Calcula-se que, durante a vida, cada pessoa beba cerca de 40.000L de água. Parece bastante, mas ainda assim muitos de nós andamos por aí praticamente desidratados.
A água é necessária para a digestão e a eliminação dos resíduos orgânicos e atua como lubrificante das articulações e dos olhos, sendo essencial para a regulação da temperatura do corpo. Tanto as bebidas como os alimentos fornecem água. A ingestão total de água a partir de bebidas — incluindo chá, café ou sumos —, acrescida de cerca de 300ml de água que se obtêm como subproduto do metabolismo, fornece aproximadamente 2L de água por dia, enquanto os alimentos — sobretudo fruta e legumes — fornecem mais 1L. Tudo isto representa um total aproximado de 3L de água por dia para o adulto médio.
Suaste no ginásio? Precisas de mais Água
Quando se faz exercício vigoroso, ou quando o tempo está particularmente quente, deve beber-se mais água do que o normal, a fim de compensar a água perdida através da respiração rápida e da transpiração. É como quando o ar condicionado está no máximo – o consumo energético dispara!
Beber muita água permite diluir o cálcio presente na urina — em concentrações elevadas, o cálcio pode formar cálculos (pedras) nos rins. A água evita infeções da bexiga e dos rins e melhora a aparência da pele através da eliminação dos resíduos da digestão.
As pessoas que bebem pouca água podem sofrer de dores de cabeça e dificuldades de concentração. Embora pareça surpreendente, é possível — embora difícil — beber água em excesso. A ingestão de grande quantidade de água num espaço de tempo muito curto pode provocar sintomas de curta duração semelhantes aos da embriaguez. Por isso, não, não podes substituir aquela cerveja por 5 litros de água de uma vez só!
Preocupações com a Água da torneira
Nos últimos anos, a venda de águas engarrafadas e de filtros para a água aumentou extraordinariamente, refletindo as preocupações do público com a qualidade da água canalizada. Tais preocupações são em grande parte injustificadas, apesar de existirem alguns problemas.
Para garantir que a água canalizada possa ser consumida com segurança, existem normas que impõem padrões muito mais rigorosos à água de abastecimento público do que os que são aplicados a muitas águas engarrafadas, sobretudo no que se refere ao seu teor de microrganismos. As empresas distribuidoras de água de rede pública adicionam cloro à água, a fim de a desinfetar e impedir a proliferação de bactérias.
O que estás mesmo a beber?
Além disso, a água canalizada pode conter minerais importantes, cálcio, magnésio, potássio e ferro, mas os seus níveis variam bastante, consoante a sua origem e região.
Embora a água seja regularmente analisada, certos poluentes podem continuar presentes — se bem que em quantidades diminutas. Estes incluem fertilizantes, herbicidas e pesticidas, substâncias químicas industriais e metais tóxicos. Algumas substâncias — como o cloro, o flúor e o sulfato de alumínio — adicionadas à água canalizada pelas autoridades responsáveis pelo fornecimento de água também são igualmente causa de receios por parte dos consumidores.
Alumínio
É frequente adicionar-se sulfato de alumínio à água, a fim de eliminar matérias em suspensão. Embora a maior parte do alumínio seja removida por filtragem, uma pequena quantidade passa para a rede de fornecimento de água. De acordo com as normas atuais da Comunidade Europeia, a concentração máxima permitida de alumínio na água é de 0,2 mg/L. No entanto, um artigo publicado na revista médica The Lancet em 1989 demonstrou que em regiões onde os níveis de alumínio na água potável excediam 0,11 mg/L havia maior risco de ocorrência da doença de Alzheimer do que em áreas onde esse valor era inferior a 0,01 mg/l. Apesar destes dados, a ligação entre a absorção de alumínio e a doença de Alzheimer continua a ser assunto em discussão.
Hormonas sexuais na tua água?
Foram detetadas substâncias químicas semelhantes aos estrogénios em cursos de água e lagos que abastecem determinadas regiões. Tais substâncias têm sido associadas a uma redução da fertilidade masculina em certos peixes e répteis, e algumas organizações de defesa do ambiente revelam preocupação crescente acerca do efeito nocivo que esses químicos possam exercer sobre a fertilidade humana.
Chumbo
Os canos de chumbo para abastecimento de água eram comuns nas casas antigas, e embora a maioria já tenha sido substituída, a água ainda pode continuar a ser contaminada pela solda de chumbo usada para ligar canos de cobre. Os riscos são muito mais elevados em regiões de água macia, pois aí o chumbo dissolve-se mais facilmente. O mesmo se passa com a água quente, pelo que nunca deves usar para cozinhar água retirada da torneira de água quente.
O principal problema de uma exposição prolongada ao chumbo é o seu efeito potencialmente nocivo sobre as crianças. Sabe-se que o envenenamento pelo chumbo pode provocar problemas de comportamento e de aprendizagem e falta de coordenação. Pode também retardar o crescimento da criança e lesar de forma permanente o sistema nervoso. Embora os adultos absorvam muito menos chumbo do que as crianças, também podem apresentar sintomas de envenenamento pelo chumbo e sofrer lesões renais e dos órgãos de reprodução.
Para minimizar o risco de absorção de chumbo, abre a torneira de água fria durante alguns minutos todas as manhãs para eliminar a água que ficou nos canos durante a noite.
Flúor
O flúor fortalece o esmalte dentário e torna os dentes mais resistentes à cárie, sendo por isso muitas vezes utilizado pelas autoridades sanitárias para reduzir os problemas de dentição das populações por adição à água canalizada, um processo conhecido por fluoretação.
No entanto, a quantidade de flúor adicionado não pode exceder 1000 mcg/L. Contacta os serviços municipalizados ou as autoridades locais competentes para saber se vives numa região em que se adiciona flúor à água e qual a percentagem utilizada.
A maior parte dos dentífricos contém flúor, devendo por isso indicá-lo entre os seus elementos constituintes. Contudo, em alguns casos raros, sobretudo em regiões onde os níveis de flúor da água são elevados, as crianças podem desenvolver um problema conhecido por fluorose, que se traduz por uma coloração castanha dos dentes. Por vezes, surge uma espécie de fluorose inofensiva, sob a forma de manchas brancas nos dentes, em zonas onde o teor de flúor na água é o recomendado.
Nitratos
Desde a década de 70, tem havido muita controvérsia acerca dos nitratos contidos na água canalizada. Os seus níveis são controlados, não podendo exceder 50 mg/l, valor baseado no risco que podem correr bebés alimentados a biberão — com leite preparado com água da torneira — de desenvolverem uma forma de anemia rara e fatal, conhecida por «síndroma do bebé azul» (doença azul). O nitrato fermenta no estômago do bebé e converte-se em nitrito, que reage com a hemoglobina do sangue, limitando a sua capacidade de transportar oxigénio. Já há bastantes anos que não se verificam mortes devido a este problema.
Os nitratos, muito usados como fertilizantes agrícolas, são arrastados para os rios e fontes de água subterrâneas. Uma vez ingeridos, os nitratos são convertidos em nitritos pelas bactérias presentes no intestino grosso, entram na corrente sanguínea e são expelidos através das glândulas salivares pela saliva. Quando entram no estômago, os nitritos podem reagir com as aminas presentes nos alimentos, dando origem a nitrosaminas — substâncias carcinogénias que podem estar associadas a alguns tipos de cancro do estômago.
A norma europeia limita a concentração de nitratos na água canalizada a 50 mg/l, mas este valor é por vezes ultrapassado em períodos de seca, em que se verifica uma maior concentração.
Quem tem medo da Água?
Se estás preocupado com a qualidade da água que te é fornecida, informa-te junto dos serviços municipalizados ou da companhia de distribuição de água que serve a tua região. As entidades responsáveis são obrigadas a fazer regularmente análises à água distribuída, a fim de garantirem que esta se encontra dentro dos limites impostos pela legislação. A frequência dessas análises, que pode variar entre 2 dias e 2 meses, depende, entre outros factores, do número de pessoas abastecidas por cada rede de distribuição.
As normas que regulam a qualidade da água das redes de distribuição estão definidas no Decreto-Lei n.º 74/90, de 7 de Março. Estão no entanto em preparação, a nível da União Europeia, limites mais restritos à qualidade da água para consumo humano, à medida que a pesquisa científica disponibiliza novos elementos sobre as consequências de determinadas concentrações de substâncias químicas na água que bebemos.
Filtros: Será que precisas mesmo?
Embora, em princípio, seja seguro beber água da torneira, muitas pessoas usam aparelhos para purificar a água, a fim de remover quaisquer eventuais vestígios de substâncias químicas, metais e outras. Seja qual for o sistema escolhido, substitua o filtro regularmente, segundo as instruções do fabricante. Se o filtro for utilizado durante tempo demais, começará a deixar passar poluentes para a água, originando a proliferação de bactérias.
Existem três tipos principais de aparelhos:
- Os filtros de carvão ativados, que absorvem o cloro, os pesticidas e algumas substâncias químicas, mas não o flúor nem os nitratos
- Os aparelhos de destilação, que removem a maior parte das impurezas através da vaporização e posterior condensação da água
- Os aparelhos de osmose inversa forçam a água, que passa primeiro por um pré-filtro, a atravessar uma membrana semipermeável, removendo quase todas as substâncias químicas e minerais, incluindo o cálcio e magnésio
No entanto, nem todas as pessoas gostam do sabor da água destilada, e os aparelhos consomem muita eletricidade; por fim, os aparelhos de osmose inversa desperdiçam muita água. A água assim purificada deve ser utilizada de imediato ou conservada no frigorífico e usada num espaço de 24 horas. Não a deixes à temperatura ambiente, pois a ausência de cloro permite a multiplicação de bactérias.
Água macia ou dura?
A dureza da água depende, em parte, dos níveis de certos minerais presentes, como o cálcio e o magnésio, por exemplo. Se vives numa região de água dura e pretendes instalar um amaciador de água, deve deixar uma torneira que forneça água dura para cozinhar e beber. Deste modo, não só garantirás os benefícios decorrentes da presença do cálcio na água, mas também evitarás a ingestão de sódio, produzido em quantidades relativamente elevadas pelo processo de amaciamento.
O que contém uma garrafa de Água?
Muitas pessoas pensam que as águas engarrafadas são mais puras e saudáveis do que a água da torneira. Porém, as águas engarrafadas contêm muitas vezes níveis mais elevados de bactérias — se bem que inofensivas — do que a água canalizada, que contém cloro para evitar a proliferação bacteriana. Além disso, muitas águas «minerais» contêm níveis de minerais que não ultrapassam os da água da torneira.
As águas de «nascente» e de «mesa» podem, por lei, provir de qualquer fonte, desde nascentes naturais a torneiras de canalizações. Os fornecedores transportam, misturam, filtram e por vezes gaseificam essas águas antes de as engarrafar.
Algumas pessoas bebem água engarrafada porque pensam que terá um baixo teor de nitratos, o que pode não ser verdade. Os níveis variam muito: desde menos e 1 mg até 32 mg/L. Por lei, não há limites para os níveis de nitratos da água mineral natural, ao passo que o limite máximo permitido em todos os outros tipos de água é de 50 mg/L (tal como para a água da torneira).
Leia sempre o rótulo da garrafa. Finalmente, as águas engarrafadas podem ter um elevado teor de sódio, o que pode contribuir para a tensão arterial elevada. Verifique os rótulos, pois os níveis de sódio podem variar entre 0,5 mg/100 ml, o que não tem significado, até 114 mg/100 ml, nível perigosamente elevado.
A principal justificação para beber água engarrafada é o facto de se preferir o sabor ou quando se viaja em regiões onde a água da torneira pode estar contaminada.
Água nos alimentos
Cerca de um terço da água que ingerimos provém de alimentos «sólidos». A fruta e os legumes são os que mais água fornecem, mas a carne, o peixe, o pão e os lacticínios também contribuem.
Pão
A maior parte dos pães contém cerca de 38% de água, embora essa percentagem varie conforme o tipo de pão. As bolachas de água e sal têm 4% de água, as bolachas digestivas, 3%, e o cheesecake, cerca de 35%.
Lacticínios
Os queijos de pasta mole contêm cerca de 58% de água, os de pasta dura, 38%, e os queijos de casca mole cerca de 50%. A manteiga e as margarinas têm 16% de água. O leite é constituído por 50% de água, e as natas variam entre 48 e 79%.
Peixe e marisco
A percentagem de água no peso dos diversos peixes é semelhante, rondando os 75%. Os mariscos têm ainda mais água, até 85%. As anchovas contêm 42% de água, e o arenque fumado, 47%.
Fruta
A parte comestível da maior parte da fruta contém normalmente 75-80% de água. O melão é constituído por cerca de 90% de água, e as frutas secas, como as tâmaras e os corintos, por 12 e 16%, respetivamente.
Doces
O mel é constituído por 23% de água, e as compotas de fruta, em geral, por 30%. As compotas com pouco açúcar têm maior conteúdo de água, cerca de 65%. O doce de laranja e os xaropes, apenas 20% de água.
Aves e carnes
As carnes para assar contêm cerca de 50% de água; nas aves, esse valor é superior, 65-70%. Os salames têm 28% de água, e o bacon (toucinho) varia entre 13 e 67%. O conteúdo de água das salsichas varia entre 45 e 54%.
Legumes
Os legumes são os alimentos com maior percentagem de água: o pepino com 96%, o tomate com 93%, os espinafres, as cenouras e os brócolos com 89%.
As folhas de alface são constituídas por 95% de água, e a melancia, por 99%.
Odores e Água turva
Por vezes, a água que sai diretamente da torneira tem um cheiro a cloro. Se isso acontecer, enche um jarro com água e deixa-o no frigorífico durante cerca de uma hora, e o cheiro a cloro deverá desaparecer.
A água da torneira turva com pequenas partículas em suspensão pode dever-se a obras em canalizações próximas. Em princípio, as autoridades ou serviços competentes deverão informar-te da data dos trabalhos, podendo sugerir que deixes correr a água da torneira até sair límpida. Se não for esse o caso, ferve a água durante alguns minutos e deixa-a em repouso para que os sedimentos se depositem no fundo. Em seguida, decanta-a com cuidado para que os sedimentos não passem com a água.
Bebe Água – a tua vida depende disso
Agora que sabes tudo sobre a água que bebes todos os dias, talvez dês mais valor àquele simples copo transparente. Afinal, não é apenas um líquido – é uma verdadeira fonte de vida que merece toda a tua atenção.
E lembra-te: se calhas de ler isto e ainda não bebeste água hoje, vai já buscar um copo! O teu corpo, que é 60% água, agradece.
E da próxima vez que te sentires sem energia, com dores de cabeça ou com dificuldade em concentrar-te, pergunta-te primeiro: “Bebi água suficiente hoje?” Antes de procurares soluções complicadas, começa sempre pela mais simples – e vital.