Já te aconteceu estares com alguém e o teu corpo decidir que “não, hoje não”? Bem-vinda ao clube exclusivo que, na verdade, não é assim tão exclusivo. A “frigidez” é aquela música que muita gente já ouviu, mas ninguém gosta de admitir que conhece. Vamos descongelar este tema!
Para começar, é um nome horroroso
O termo “frigidez”, com o seu conteúdo depreciativo, utilizado para descrever situações em que não existe desejo ou capacidade de desfrutar das relações sexuais, está a cair em desuso. E ainda bem! É como chamar “desgrenhado” a alguém que está a ter um mau dia de cabelo – não só é rude como não ajuda nada.
À medida que aumenta a compreensão das dificuldades sexuais e das suas causas, dá-se a designação mais apropriada de “disfunção geral sexual”. Menos frio, mais preciso, todos ganhamos.
Segundo a Dra. Ana Carvalheira, psicóloga especialista em sexologia clínica, “a terminologia atual evita termos estigmatizantes como ‘frigidez’, preferindo descrições mais precisas das várias disfunções do desejo e excitação sexual, o que facilita tanto o diagnóstico quanto o tratamento adequado.”
Como funciona isto do Desejo Sexual?
Tal como a impotência, a frigidez dá-se quando não existe desejo sexual ou se verifica incapacidade de ativação. Na excitação sexual feminina, o corpo responde com aumento do fluxo sanguíneo na vagina, dilatação dos tecidos e produção de lubrificação. Quando existe frigidez, a lubrificação é insuficiente ou inexistente.
É como tentares ligar um carro sem combustível – podes girar a chave o quanto quiseres, o motor não vai pegar.
A produção do fluido lubrificante está dependente de um fornecimento adequado de estrogénios, cuja deficiência mais comum ocorre na menopausa.
A Frigidez não é só física, também é psicológica
O problema da frigidez também envolve frequentemente fatores psicológicos, geralmente relacionados com conflitos ou receios acerca das relações sexuais ou do próprio parceiro.
O conflito pode resultar de:
- Um abuso sexual anterior (trauma que o corpo não esquece);
- Um parceiro insensível ou sexualmente agressivo (nada mata mais o desejo do que sentires-te apenas um objeto);
- Insegurança e medo (quando a mente está ocupada a preocupar-se, não sobra espaço para o prazer).
De acordo com um estudo da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, “os fatores psicológicos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de disfunção sexual em mulheres sem problemas físicos subjacentes.”
Se uma pessoa se sente pouco segura sobre a relação sexual, o seu corpo traduz sinais baseados no conflito ou no medo. Mesmo que esteja afetivamente ligada ao parceiro, ela é incapaz de expressar esse sentimento nas suas reações físicas, e a frigidez é o angustiante resultado.
As Medicinas Alternativas e a Frigidez
Terapia Comportamental
O objetivo é criar um ambiente em que o ato sexual se desenrole de forma descontraída e agradável. O contacto sexual é interrompido e depois progressivamente reintroduzido ao longo de algumas semanas.
Isto é como aprender a nadar – primeiro ficas na parte rasa, depois vais avançando até te sentires confortável em águas mais profundas:
- Começa com beijos e carícias
- Passa para estimulação oral
- Finalmente, chega à relação sexual completa
O contacto torna-se mais íntimo, passando do rosto para o pescoço, ombros, costas, coxas, seios e, finalmente, a vagina. Quando cada fase é mutuamente apreciada, os parceiros passam para a seguinte.
A Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica recomenda que “a terapia sexual seja realizada em ambiente seguro e livre de pressões, permitindo que cada etapa seja vivenciada com prazer antes de avançar para a próxima.”
Aromaterapia
Auto-auxílio? Verificou-se que alguns óleos têm efeitos benéficos. Uma das melhores maneiras de os usar é cada um dos parceiros dar ao outro uma massagem relaxante nas costas com jasmim e sálvia.
Também podem:
- Salpicar um pano com algumas gotas de óleos e colocá-lo sobre a almofada
- Queimar óleos num queimador no quarto
Acupuntura
Os desequilíbrios da físico-afetividade estão implicítos na grande maioria dos casos de frigidez. A frigidez também está relacionada com uma insuficiente circulação de energia no “foyer inferior” e em particular com os meridianos que se relacionam com os órgãos genitais e que são o fígado, jenn mo e baço.
Os pontos usados são:
- 3F (estimulado em tonificação equilibra a energia do meridiano do fígado)
- 2G (age sobre as mucosas genitais)
- 6G (ponto mestre do foyer inferior)
- 4Rt (ponto com ação direta na esfera sexual)
Talvez não entendas nada disto, e não faz mal – também não entendemos como funciona o circuito do comando da TV, mas sabemos que funciona.
O objetivo do tratamento é resolver desequilíbrios hormonais ou conflitos mentais e emocionais. Obtêm-se melhores resultados quando a acupuntura é acompanhada por alterações da dieta e por remédios homeopáticos ou plantas medicinais.
O que dizem os médicos
Um médico investigará e tratará quaisquer problemas físicos que sejam ou possam vir a ser inibidores do desejo e do prazer nas relações sexuais, como:
- Secura vaginal
- Dor durante a relação
Poderá, por exemplo, receitar uma terapia de substituição hormonal para a secura vaginal na menopausa.
Um aspeto importante é a abordagem psicológica: o médico poderá ajudar uma pessoa que se sinta insegura acerca das relações sexuais, levando-a a descobrir por si própria a natureza do conflito e a melhor forma de ultrapassar a situação.
De acordo com o Dr. João Santos, ginecologista especializado em medicina sexual, “muitas vezes, simplesmente conversar abertamente sobre sexualidade e desmistificar expectativas irrealistas já representa um passo significativo no tratamento.”
Também poderá enviar a pessoa a um sexólogo, que pode fazer tratamentos de base comportamentalista. Em condições de relaxamento, as pessoas são encorajadas a responder sexualmente, de maneira que a excitação ocorra e se torne não somente um prazer, mas também um inibidor do medo.
Afinal, não é tão raro quanto pensas
Estudos recentes da Sociedade Portuguesa de Andrologia indicam que cerca de 35% das mulheres e 15% dos homens já experimentaram períodos de diminuição significativa do desejo sexual. Isso significa que, numa festa com 20 pessoas, pelo menos 5 já passaram por isso. Provavelmente estão todas a fingir que estão apenas muito interessadas no canapé.
Soluções práticas para descongelar a situação
- Comunicação: Fala com o teu parceiro(a) sobre os teus sentimentos e receios. Às vezes, só o ato de verbalizar já alivia a pressão.
- Mindfulness: Práticas de atenção plena podem ajudar-te a estar presente no momento e não preso nos teus pensamentos durante a intimidade.
- Auto-conhecimento: Explora o teu corpo sozinha, sem pressão ou expectativas. É como fazer um test-drive antes de comprar o carro.
- Procura ajuda profissional: Um terapeuta sexual pode oferecer estratégias específicas para o teu caso. Não é vergonha nenhuma – é como ir ao dentista quando te dói um dente.
- Cuida da tua saúde geral: Exercício regular, boa alimentação e sono adequado têm um impacto direto na libido. O desejo sexual não existe num vácuo – é parte do teu bem-estar geral.
A psicóloga sexual Marta Fontes recomenda que “a reconexão com o prazer deve começar fora do quarto, através da redução do stress diário e do cultivo de momentos de auto-cuidado e relaxamento.”
Mitos Que Precisam de Ser Descongelados
MITO 1: “Frigidez significa que nunca sentirás prazer sexual.”
A maioria das disfunções sexuais pode ser tratada com a abordagem adequada.
MITO 2: “É tudo psicológico.”
Pode ser resultado de fatores físicos, psicológicos ou uma combinação de ambos.
MITO 3: “Só afeta mulheres.”
Homens também podem experimentar perda de desejo sexual e dificuldades de excitação que não estão relacionadas com a ereção.
MITO 4: “É permanente.”
A maioria das pessoas experimentará variações no desejo sexual ao longo da vida, influenciadas por stress, saúde, relacionamentos e idade.
O prazer é um direito, não um luxo
O desejo sexual é como o apetite – varia de pessoa para pessoa, de dia para dia, e é influenciado por inúmeros fatores. A “frigidez” ou, mais corretamente, a disfunção sexual, não é uma sentença vitalícia nem um reflexo do teu valor como parceiro(a).
Se estás a enfrentar dificuldades, lembra-te: não estás sozinha, não é culpa tua, e há muitas soluções disponíveis. O prazer sexual é parte do teu direito a uma vida plena e satisfatória, e mereces explorá-lo sem medo ou vergonha.
E, por fim, uma nota de encorajamento: às vezes, o caminho para o prazer tem curvas inesperadas, mas a viagem vale sempre a pena. Afinal, a vida é demasiado curta para sexo morno, não achas?